
Atos dias 7 de março
Foi nesta terça-feira, um dia antes do 8 de março (Dia Internacional das Mulheres), na Universidade de São Paulo, onde estudo.
Vi mais uma ação da reitoria pra seguir pondo em prática seu projeto de desmonte da Universidade, em que a precarização dos serviços, a perseguição a estudantes e funcionários e a toda e qualquer articulação política tem sido realizada sem qualquer disfarce.
Na tentativa de contribuir para esse acontecimento não ser esquecido, partilho aqui um pouco do que foi minha experiência. (Ressalto que no início deste ato haviam também crianças e um bebê num carrinho).
Vi policiais militares correrem atrás de pessoas com seus cacetetes, ameaçando-as por ali estarem.
Vi a chegada da Tropa de Choque na rua em frente à reitoria e praça do relógio, e suas bombas lançadas nos manifestantes.
Mulheres foram jogadas no chão e levaram chutes na cabeça.
Vi “conselheiros” passando junto à cerca pra entrar na reitoria e votar seus “pacotes” enquanto a tropa de choque jogava bombas de gás para todos os lados, nas mesmas pessoas que serão atingidas pela aprovação de suas medidas no CO.
Tive colegas que receberam balas de borracha, inclusive na garganta.
Vi pessoas serem detidas – e também o fui- dentro da própria reitoria da Universidade, tendo seus celulares “confiscados”. Nani, professora da creche, teve as imagens que registrou das agressões apagadas pelos policiais.
Tive um colega detido no hospital por acompanhar um ferido (que precisou levar pontos na cabeça).
Também fui agredida por policiais militares e detida (com mais uma professora da Creche – a mesma que a Reitoria quer acabar de vez-, dois funcionários– um deles mulher, que também precisou fazer pontos na cabeça- e outros três alunos) por me manifestarem pacificamente junto à comunidade em desacordo com a pauta do Conselho Universitário, a ser votada sem qualquer discussão.
Recebi golpes de cassetete. Numa segunda agressão, fui machucada, imobilizada, jogada ao chão. Impedida de respirar com uma manobra de perna, em seguida jogada/virada pra baixo e tive uma pisada de botina nas costas e novamente impedida de respirar. Sem nenhum motivo, ouvi, já zonza, uma policial incitar minha detenção. Algemas apertadas foram colocadas, tive os braços torcidos e fui violentamente carregada para dentro da reitoria.
Pegaram minha bolsa com meus pertences sem meu consentimento. Esta só foi devolvida na delegacia, após comprovar com imagens que estava com ela, diante da negativa do policial sobre a terem levado.
Levamos batidas no corpo todo enquanto a viatura em que estávamos (eu e Nani) corria com as demais, numa espécie de “racha” sádico de policias pela universidade, que costuravam as ruas e riam-se de nós dentro do carro que estávamos.
Seguimos para o HU onde fomos “acompanhadas” por policias e onde vi amigos e outros manifestantes chegarem machucados, ensanguentados. A médica que me atendeu, bem como outros funcionários do hospital, mostraram-se consternados diante da situação, sendo que foram muitos em nossa condição que ali passaram. Na sala de espera, que ficamos por horas, conversamos e explicamos o ocorrido para outros pacientes, muitos ali da Remo, comunidade ao lado da USP (separada por um muro e por sua política elitista) que se colocaram dispostxs ( eram principalmente mulheres) a nos auxiliar no pedido de ajuda e a denunciar o que estava acontecendo. Na delegacia a espera seguiu até à noite, em que pudemos ouvir outros relatos do absurdo passado por nossos colegas e nos fortalecer um pouco diante do que acontecia e segue acontecendo."
Mariana Brum
Estudante de Graduação (USP)