
De Olho no Óleo

Mais um gigantesco crime ambiental ocorre no nosso pais.
As manchas de óleo começaram a chegar nas praias do litoral nordestino no dia 30/08 e a demora da tomada de decisão por parte do governo federal e órgãos responsáveis impossibilitou o recolhimento deste material em região offshore (onde o impacto ambiental é menos desastroso), fazendo com que chegasse as praias brasileiras causando grandes danos socioambientais e econômicos ao litoral nordestino.
Com isso, no dia 21 de outubro de 2019, das 14h às 17h30, aconteceu, no anfiteatro do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, o evento "De Olho no Óleo" que contou com mais de 65 pessoas, incluindo alunos e professores do Instituto Oceanográfico e outros institutos da USP. O Objetivo foi trazer um conhecimento holístico da situação do vazamento do óleo no nordeste. Para isso, foi apresentado pequenos talks com pessoas que estiveram próximas a situação, desde a esfera governamental até a comunidade pesqueiras mais afetadas para entender todas as ações e consequências relacionadas ao desastre. Entre eles:
- Samanta Della Bella e Andrea Olinto, que trabalham na Secretaria do Meio Ambiente de Pernambuco, sendo que a Andrea trabalha especificamente com Gerenciamento Costeiro;
- Marizele Lopes, pescadora a comunidade Ilha de Maré, na Bahia;
- Miguel Accioly, professor da UFBA;
- Tiele Meneses Lopes, moradora da comunidade da Ilha de Maré, na Bahia;
- Rosilene Tupinambá, moradora do território Tupinambá em Ilhéus, na Bahia;
- Zênis Novais da Rocha, professora da UFBA.
A informação mais relevante dos representantes do estado de Pernambuco foi o pouco preparo que o estado tinha para esse tipo de situação, demorando muito tempo para tomar medidas de contenção e mitigação do óleo.
Na esfera comunitária, o mais levantado foi a falta de caso do estado com as comunidades quilombolas e caiçaras que sofreram muito economicamente e socialmente com o desastre, citando racismo ambiental como ponto chave para explicar a questão.
Também tivemos contribuições de professores de universidades públicas que citaram alguns pontos relevantes sobre as ações do governo e como a falta de responsável pelo vazamento está atrelado ao jogo político que deixa as comunidades de lado. A professora Zênis, da UFBA, também contribuiu com a explicação de seu projeto, que transforma o óleo encontrado nas praias em carvão.
Após os talks, o evento foi palco de uma roda de conversas, que contou como mediador o aluno do Instituto Oceanográfico, Márcio Santana, e como convidados Mariana Thévenin, mestre em Oceanografia Física e que participa do Oceano para Leigos e o Prof.Dr. Rafael Lourenço (do Laboratório de Química Orgânica Marinha LabQOM -USP) que tem como ênfase em sua pesquisa os hidrocarbonetos. No início da mesa-redonda, o foco foi o depoimento de cada participante quanto ao óleo. O Professor Rafael Lourenço iniciou com a parte descritiva dos hidrocarbonetos, de como são formados, a contaminação que tal composto poderia causar no meio ambiente e nas pessoas que estavam em contato direto com ele. Comentou também sobre o EPI utilizado. Mariana Thévenin, em seu depoimento, falou sobre a dispersão do óleo, como poderia ter ocorrido, de onde poderia ter origem, além da vivência que lhe foi relatada das pessoas que foram afetadas pelo derramamento.
Após as duas apresentações dos convidados, foi aberto ao público a chance de realizar perguntas. Diversas dúvidas foram relatadas, desde a falta de caso do governo, a dificuldade de descobrir a proveniência do óleo, danos causados ao meio ambiente e sociedade, a vida das comunidades tradicionais após o derrame, até o modo no qual a universidade poderia contribuir. O Prof. Rafael Lourenço chegou a comentar que algumas amostras lhe foram enviadas para análise, mas até o momento da mesa-redonda quase nenhuma pesquisa tinha sido realizada ainda.
O final do evento contou com a apresentação de um documentário, com direito a pipoca e café, chamado No Rio e No Mar, dos diretores Jan Willem Den Bok e Floor Koomen, que investiga a luta enfrentada pela comunidade pesqueira e quilombola de Ilha de Maré (BA) contra a Petrobras e outros grandes empreendimentos petroquímicos que ameaçam a pesca artesanal e o modo de vida dessas populações.